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Sanidade

Doenças das Abelhas: Identificação, Prevenção e Tratamento

Casa da Abelha
18 min de leitura

A sanidade apícola é fundamental para o sucesso da apicultura e para a preservação das abelhas. As doenças podem causar perdas devastadoras nas colônias, reduzindo drasticamente a produtividade e, em casos extremos, levando à morte das colmeias. Este guia abrangente apresenta as principais doenças, métodos de identificação, prevenção e tratamentos eficazes.

Alerta Global

O declínio das populações de abelhas é um problema mundial que afeta a polinização e a produção de alimentos. A prevenção e o tratamento adequado das doenças são cruciais para a conservação desses importantes polinizadores.

Principais Categorias de Doenças

Parasitas

Varroa, Nosema, Acarapis, Tropilaelaps

Viroses

Vírus da asa deformada, vírus da paralisia

Bacterianas

Loque americana, Loque europeia

1. Varroose (Varroa destructor)

A varroose é considerada a doença mais devastadora das abelhas melíferas mundialmente. Causada pelo ácaro Varroa destructor, este parasita se alimenta da hemolinfa das abelhas e transmite diversos vírus letais, sendo responsável pelo colapso de milhões de colônias.

Sintomas da Varroose

Sintomas Visuais:

  • Abelhas com asas deformadas ou atrofiadas
  • Abelhas rastejando no chão, incapazes de voar
  • Ácaros visíveis no corpo das abelhas (pontos marrons)
  • Abelhas com abdômen reduzido
  • Cria irregular ou com falhas

Sintomas Comportamentais:

  • Redução drástica da população
  • Abelhas nervosas e agressivas
  • Abandono da colmeia (colapso)
  • Redução na produção de mel
  • Mortalidade elevada no inverno

Ciclo de Vida do Varroa

1

Fase Forética (7-20 dias)

Ácaro adulto vive sobre a abelha adulta, alimentando-se de sua hemolinfa

2

Invasão da Célula

Fêmea invade célula de cria 15-20 horas antes da operculação

3

Reprodução (12 dias)

Postura de 4-6 ovos na célula operculada, desenvolvimento das larvas

4

Emergência

Novos ácaros emergem com a abelha adulta, iniciando novo ciclo

Tratamentos para Varroa

Tratamentos Químicos

  • Fluvalinato: Tiras impregnadas (Apistan) - 6-8 semanas
  • Amitraz: Tiras ou fumigação (Apivar) - 6-10 semanas
  • Ácido fórmico: Evaporação controlada - 3 aplicações
  • Ácido oxálico: Sublimação ou gotejamento

Tratamentos Orgânicos

  • Timol: Óleo essencial natural - 4 semanas
  • Ácidos orgânicos: Fórmico e oxálico certificados
  • Óleos essenciais: Eucalipto, tomilho, hortelã
  • Açúcar impalpável: Método auxiliar

2. Nosemose (Nosema apis e N. ceranae)

A nosemose é uma doença causada por microsporídios que infectam o intestino das abelhas adultas, causando diarreia crônica e reduzindo significativamente a longevidade das abelhas. É uma das principais causas de enfraquecimento das colônias.

Sintomas da Nosemose

• Diarreia: Manchas amareladas nos favos e entrada da colmeia

• Abelhas com abdômen distendido: Intestino inchado visível

• Redução da longevidade: Abelhas vivem 50% menos

• Diminuição da população: Colônia enfraquece rapidamente

• Comportamento anormal: Abelhas tremendo ou cambaleando

• Redução na produção: Menos mel e própolis

Fatores Predisponentes

Fatores Ambientais

  • Umidade excessiva (>60%)
  • Confinamento prolongado (inverno rigoroso)
  • Água contaminada próxima ao apiário
  • Ventilação inadequada

Fatores de Manejo

  • Estresse nutricional (falta de pólen)
  • Superpopulação das colmeias
  • Equipamentos contaminados
  • Rainhas velhas ou deficientes

Tratamento da Nosemose

Medicamentoso:

Fumagilina: Antibiótico específico para Nosema - 25mg/L de xarope, administrar por 2-3 semanas no outono.

Manejo Preventivo:

  • Melhoria da ventilação e drenagem das colmeias
  • Alimentação suplementar com xarope e substituto de pólen
  • Renovação periódica da cera velha
  • Fornecimento de água limpa e fresca
  • Redução do estresse das colônias

3. Loque Americana (Paenibacillus larvae)

A loque americana é uma doença bacteriana altamente contagiosa que afeta a cria das abelhas. É considerada uma das doenças mais graves da apicultura, sendo de notificação obrigatória em muitos países devido ao seu potencial devastador.

Sintomas Característicos

Sintomas Visuais:

  • Cria morta de cor marrom escura
  • Consistência viscosa da cria morta
  • Opérculos perfurados e escuros
  • Escamas aderentes no fundo das células
  • Padrão irregular de cria

Sintomas Olfativos:

  • Odor pútrido característico
  • Cheiro de cola ou peixe podre
  • Intensificação do odor com o calor
  • Detectável a distância da colmeia

Diagnóstico da Loque Americana

Teste do Palito (Teste de Campo)

  1. Inserir um palito ou graveto na cria morta
  2. Mexer suavemente o conteúdo da célula
  3. Retirar o palito lentamente
  4. Resultado positivo: Massa viscosa que se estende por 2-3 cm
  5. Resultado negativo: Material granuloso que não se estende

Tratamento e Controle

Tratamento Medicamentoso

  • Oxitetraciclina: 200mg/colmeia, 3 aplicações
  • Tilosina: 200mg/colmeia, tratamento alternativo
  • Lincomicina: Para casos resistentes
  • Aplicação em xarope ou açúcar impalpável

Medidas Sanitárias

  • Queima de favos contaminados
  • Desinfecção com hipoclorito de sódio 2%
  • Isolamento das colmeias afetadas
  • Notificação às autoridades sanitárias

4. Cria Giz (Ascosphaera apis)

A cria giz é uma doença fúngica que afeta as larvas das abelhas, causando sua mumificação. As larvas mortas ficam com aparência de giz branco, dando nome à doença. Embora menos grave que outras doenças, pode causar perdas significativas em condições favoráveis ao fungo.

Sintomas e Identificação

  • Múmias brancas: Larvas mumificadas com aparência de giz
  • Múmias pretas: Estágio avançado com corpos frutíferos
  • Múmias soltas: Encontradas nos favos e entrada da colmeia
  • Padrão irregular: Cria com falhas e células vazias
  • Remoção pelas abelhas: Operárias removem múmias ativamente

Fatores Predisponentes

Condições Ambientais

  • Umidade excessiva (>60%)
  • Temperaturas baixas (abaixo de 35°C)
  • Ventilação inadequada
  • Localização em áreas úmidas

Fatores de Manejo

  • Estresse nutricional
  • Colônias fracas
  • Equipamentos contaminados
  • Superpopulação

Programa de Prevenção e Monitoramento

Cronograma de Inspeções Sanitárias

Inspeções Mensais:

  • Avaliação geral da colônia
  • Verificação da postura da rainha
  • Observação do comportamento das abelhas
  • Controle da população

Inspeções Bimestrais:

  • Monitoramento específico de varroa
  • Análise detalhada da cria
  • Verificação de sinais de doenças
  • Avaliação nutricional

Boas Práticas Preventivas

Manejo Sanitário

  • Desinfecção regular de equipamentos
  • Renovação periódica da cera (a cada 3 anos)
  • Isolamento de colmeias suspeitas
  • Controle de acesso ao apiário
  • Registro detalhado de observações

Manejo Nutricional

  • Alimentação suplementar em períodos críticos
  • Fornecimento de água limpa e fresca
  • Manutenção de flora apícola diversificada
  • Suplementação proteica quando necessário
  • Evitar estresse nutricional

Tratamentos Naturais e Orgânicos

Com o crescente interesse por métodos sustentáveis, os tratamentos naturais e orgânicos ganham destaque na apicultura moderna. Estes métodos são especialmente importantes para apicultores orgânicos e para reduzir a resistência a medicamentos.

Óleos Essenciais

Timol:

Extraído do tomilho, eficaz contra varroa e fungos. Aplicação: 15g/colmeia em gel.

Eucalipto:

Propriedades antimicrobianas. Aplicação: 2-3 gotas em alimentador.

Ácidos Orgânicos

Ácido Fórmico:

Tratamento eficaz contra varroa. Concentração: 60-65%, aplicação por evaporação.

Ácido Oxálico:

Sublimação ou gotejamento. Dosagem: 2,3% em xarope, 5ml/quadro com abelhas.

Legislação e Notificação

Doenças de Notificação Obrigatória no Brasil

Lista A (Emergência Sanitária):

  • Loque americana
  • Acarapis
  • Tropilaelaps
  • Pequeno besouro da colmeia

Procedimentos:

  • Notificação imediata ao MAPA
  • Isolamento das colmeias afetadas
  • Coleta de amostras para diagnóstico
  • Implementação de medidas de controle

Conclusão

A sanidade apícola é um pilar fundamental da apicultura moderna e sustentável. O conhecimento das principais doenças, seus sintomas e tratamentos permite ao apicultor manter colônias saudáveis e produtivas, contribuindo para a preservação das abelhas e dos ecossistemas.

A prevenção através de boas práticas de manejo é sempre mais eficaz e econômica que o tratamento de doenças estabelecidas. É essencial manter-se atualizado sobre novas doenças emergentes e técnicas de tratamento, além de trabalhar em colaboração com veterinários especializados e órgãos oficiais de sanidade animal.

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